segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A culpa é do paciente que não melhora!

Algum de vocês já viram uma situação dessas?

Profissionais de saúde como médicos, terapeutas, psicólogos, após tanto tempo acompanhando e tratando seus pacientes e sem conseguir "algum" êxito nos seus intentos, acabam por atribuir a culpa de não melhoria aos próprios pacientes! E isso acontece porque esses trabalhadores de saúde, orgulhosos de suas profissões e detentores de conhecimentos científicos capazes de gerar alternativas e possibilidade de tratamento àqueles que demandam cuidados de saúde, não admitem que alguns pacientes fogem às suas habilidades clínicas e capacidades terapeuticas, e aí se instala o problema.

Uma matéria muito interessante tratando sobre o assunto foi publicado no portal G1 Ciência e Saúde no dia 22 de outubro. Conforme destacado pelo professor de psiquiatia Richard A. Friedman da Weill Cornell Medical College e que assina a matéria, alguns pacientes nutrem o desejo de permanecerem "doentes" e de preservar todo o status quo que sua situação de enfermo agrega para si próprios. Nesse momento, esses pacientes passam a serem observados como centrais nas situações, recebem atenção diferenciada pelos seus amigos e familiares e terminam frustrando os profissionais que os acompanham, pois tentam a todo custo "curá-los" da patologia então instalada e fazer com que voltem ao "estado de normalidade", por eles então considerado e desejado.

Trazendo algumas ilustrações e experiências vividas por outros profissionais, o professor traz à roda de discussão a necessidade desses mesmos profissionais refletirem sobre as reais necessidades dos pacientes e ampliar as capacidades e sensibilidade para compreender os reais desejos dos seus "enfermos". Atitudes como estas auxiliarão no processo de "melhoria" desses pacientes e com certeza redirecionará toda a prática e conduta desses profissionais, fugindo, sobretudo, ao cientificismo com que são realizadas muitas das práticas em saúde nos dias atuais.

Vejo que essas perpectivas põe em xeque ainda as condutas mecanizadas e a grande dependência de tecnologias pelos profissionais na resolução de casos clínicos. Sempre é importante lembrar que as práticas em saúde não podem estar desvinculadas do cenário em que esse indivíduo está inserido e como os condicionantes sociais desse contexto interferem positivo ou negativamente no quadro clínico dessas pessoas. Acho que o texto do professor Richard, nas entrelinhas, também aponta para caminhos mais simples e autônomos como alternativas de tratamento.

Bem, leiam a matéria, vale a pena, com certeza.

E lembrem: a culpa não é do paciente. Tudo está relacionado com a forma como você ênxerga e deseja o mundo.

Para os mais céticos e que carregam de forma aflorada todo o seu arcabouço tecnocientífico como infalíveis no tratamento dos seus pacintes, aí vai uma dica: se a situação ficar feia e nada mais funcionar, está na hora de chamar pelo Dr. House.


(*) Agradecimento ao colega Marcos pela indicação da matéria

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