quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quando a "patente" precede a pessoa

No mundo de hoje, especialmente no ramo da saúde e mais especificamente no campo da saúde pública, algumas pessoas com o intuito de ganhar notoriedade, deixam de ser elas mesmas, perdem as suas identidades para serem amigos, cumpadres ou conhecidos de outros que são detentores de algum tipo de poder ou possuem algum destaque na sociedade.

- Ei, você sabe quem sou eu? eu sou amigo primo-irmão do prefeito de Cabrobó de Dentro!!!
- Boa tarde, meu nome é Givanildo e sou parente do mega-empresário Dr. Wilson Carvalhal!!
- Quem é o Sr? --> - Eu sou policial!!! --> O nome do Sr. é "policial?
- Você sabe com quem está falando???

A sociedade de forma geral tem cultivado a perspectiva de que a imposição de respeito está intimamente atrelada ao que a pessoa é e/ou representa. Caso não possua uma formação de destaque ou tampouco represente qualquer instituição de credibilidade no mercado, essas pessoas passsam a ser nada sob esses tortuosos olhares. Dessa situação que surgem os maltratos, os abusos de poder, a banalização e menosprezo de outros sujeitos que não fazem parte dessa "rede social".

A busca por "ser alguém" e pelos holofotes da grandeza chega a motivar pessoas a utilizarem dos artifícos mais rasteiros possíveis, sobretudo com colegas de trabalho, com o intuito de galgar cargos e funções reconhecidamente importantes. Não medem esforços e esquecem qualquer resquício de ética e moral que por ventura ainda possa existir.

Essas foram situações que pude vivenciar de forma mais aguda quando trabalhei na gestão de serviços de saúde de alguns municípios. A avidez e a ganância com que as pessoas lutam por esses espaços é algo fora do normal e sempre apresentam-se trazendo colado aos seus nomes o cargo que ora ocupam, tentativas implicitas de deixar claro que são e representam alguma coisa, portanto, "são alguém"!

E tem mais!! É um terrível engano achar que as pessoas indicadas são a melhor força de trabalho em função da confiança que se deposita ou pelo "puxa-saquismo" que realizam. Essas são na verdade as pessoas que darão maior dor de cabeça aos gestores. Tentarão a todo momento gozar de um suposto status que acham passar a desfrutar em função do poder da indicação que carregam. Não respeitam normas, regras, não cumprem pactos, não executam seus trabalhos e ainda são intocáveis. O perfil dessas pessoas é exatamente daquelas que, fracas tecnicamente e impossibilitadas de fazer frente a outros profissionais num justo processo seletivo, vão pelo caminho da "camaradagem" e assumem as "patentes" tão desejadas.

Faço esse registro porque acho o momento crucial. Estamos no início das gestões das prefeituras Brasil afora, período em que os quadros de pessoal estão sendo recompostos e novas equipes de trabalho estão sendo formadas. Em especial nas Secretarias de Saúde, hoje tão politicamente cobiçadas dado aos montantes financeiros e de pessoal que gerem, essas lutas hão de se acirrar, pois quem já está não quer "deixar de ser alguém" e quem estar fora quer entrar.

Os gestores municipais, prefeitos e secretarios devem nesse momento deixar vaidades à margem da escolha de seus pares e levar em consideração o compromisso, a simplicidade, a capacidade técnica e a força de trabalho dessas pessoas que passarão a construir e (re)organizar a saúde dos municípios do Brasil. Esqueçam os figurões e os emblemas!