domingo, 3 de agosto de 2008

Gianecchini, alergia à penicilina e outras coisas mais

Só para vocês verem que isso acontece nas melhores famílias e no universo dos famosos também.

Durante essa semana foi noticiado a internação de Reynaldo Gianecchini para tratar de uma reação alérgica após o uso de penicilina injetável IM, a velha benzetacil. O ator descreveu uma série de desconfortos, além do aparecimento de manchas eritematosas (avermelhadas) na pele. Contudo, cabe chamar a atenção que reações alégicas vinculadas ao uso da penicilina podem constituir um grave problema, com sinais e sintomas mais severos, podendo levar os indivíduos a um possível choque anafilático e a morte.

As reações alérgicas são algo comum na população, porém, as reações alérgicas à penicilina são mais raras e estão mais vinculadas ao uso da apresentação injetável do que a forma oral do medicamento. O Blog da Alergia conta que a reação alérgica ao medicamento ocorre em torno de 0,2% da população.

A penicilina, que foi o primeiro antibiótico a ser fabricado, ainda hoje é utilizado com eficácia para tratamento de algumas patologias como a sífilis, por exemplo. Mesmo com o advento da indústria farmacêutica na composição de novos antibióticos mais potentes e eficazes e da capacidade de bactérias de criarem resistência aos medicamentos, sobretudo pelo uso indiscriminado dessas drogas, a penicilina venceu esses obstáculos e transcendeu gerações, sendo um dos antibióticos mais distribuídos na rede pública de serviços de saúde do SUS.

Percebam que a relação custo x benefício do uso da penicilina é tão importante aos cofres públicos e sua potência o tornoa um medicamento indispensável ao tratamento de determinadas infecções que o governo brasileiro mantém o uso dessa droga mesmo com as possibilidades de reações, estimulando os serviços a realizarem a dessensibilização clínica de pessoas para o uso da penicilina, sobretudo aos casos novos ou com histórico negativo de complicações vinculadas ao uso do medicamento.

O problema do uso da penicilina no SUS

Apesar das unidades básicas de saúde dispensarem o medicamento, a maior parte delas não oferece qualquer tipo de suporte para a administração do mesmo. No geral, os serviços não contam com profissionais capacitados para lidar com as possíveis reações causadas pela penicilina ou sequer possuem insumos disponíveis para intervenções de urgência nos casos mais agudos. Dessa forma, o máximo que os serviços de atenção básica conseguem realizar é, após uma anamnese bem feita, administrar o medicamento e ficar observando o paciente, torcendo para que ele não apresente reações, caso contrário, o mesmo terá que ser condizudo às pressas para os serviços de urgência/emergência mais próximos.

Para as unidades de saúde que de imediato esquivam-se de administrar a droga evitando correr riscos e complicações em seus serviços, terminam por encaminhar os pacientes a unidades hospitalares, pronto-atendimentos e pronto-socorros para que o medicamento seja então administrado. Sofre o usuário que fica peregrinando pelo sistema para ter resolvida uma simples demanda de saúde que é a administração de uma droga com segurança e sofre as unidades hospitalares que além de terem suas demandas diárias aumentadas, ainda ocupam profissionais que deveriam estar direcionados ao atendimento de caos mais graves nos serviços de urgência.

O Ministério da Saúde disponibiliza desde 1999 um manual em que orienta sobre como realizar a dessensibilização em pacientes, como tratar os casos em que é necessário a anafilaxia e como normatizar os serviços para tornarem aptos a administração dda droga.

A implementação dos serviços básicos de saúde continuam sendo a chave para organização dessa rede. É necessário que as gestões municipais tomem a inicativa de instrumentalizar as suas unidades básicas de saúde de forma não apenas distribuir o medicamento, mas também administrá-lo com segurança. Os profissionais devem ser capacitados para lidar com os casos e devem existir insumos suficentes nos serviços para realizar os procedimentos com segurança.
Ações como essa, aumentam a resolutividade dos serviços básicos, os fazem crescer em confiança e credibilidade junto a população e vincula os usuários aos serviços, evitando as peregrinações e insatisfações dos usários na rede de serviços.

Tenho certeza que com medidas como essa, até os Gianecchinis se sentirão confortáveis em acessar os serviços para tomar a sua benzetacil.

Dica: para quem quer conhecer o Manual de Testes de Sensibilidade à Penicilina do Ministério da Saúde basta clicar aqui. (versão em pdf)

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