segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pensando...

Duas passagens que gostaria de dividir com vocês. Com a palavra Dra. Rosana Onocko Campos:

"No Brasil, o que seria hoje promover a saúde nas periferias das grandes cidades? Educar o pessoal para utilizar camisinhas, fazer "sexo seguro" e morrer na próxima esquina, vítima de uma dívida miúda com o narcotráfico? Milhares de trabalhadores de saúde trabalham visando promover um planejamento familiar responsável, e, apesar disso, as adolescentes das periferias das grandes cidades dizem que engravidaram por vontade, pois mesmo não tendo formado uma familiar nuclear, ter um filho de algum "narco" poderoso garante um certo status social no morro." (p.64)

"Em inúmeros relatos de casos, e em outros experimentados por meus alunos na rede pública de Campinas, tenho sido levada a refletir sobre como uma certa fixação nos significantes: "pobre", "coitados", "carentes opera uma desvitalização das intervenções clínicas, da clínica ampliada, tal como viemos discutindo. É como se uma prepresentação congelada a respeito de quem são esses outros aos quais assistimos não nos deixasse jamais ver a quantidade de força vital que portam e da qual sua prórpia sobrevivência em condições tão adversas é a prova mais cabal. Assim, quando enxergados e (não)escutados como pobres-carentes-que-nada-possuem, transformam-se, por obra e graça de nossas percepções cristalizadas, em objetos de intervenção. Ou serão até chamados de sujeitos, porém serão sujeitos passivos que devem mudar, que TÊM DE incorporar novos estilos de vida. Mas quais estilos de vida? Os nossos? Se tivessem feito isso, já teriam sido exterminados como os índios dos pampas argentinos." (p.70)

* grifo meu em vermelho

FONTE: CAMPOS, Rosana O. A promoçãp à saúde e a clínica: o dilema "promocionista". In CASTRO; Adriana & MALO; Miguel. SUS: Ressignificando a promoção da Saúde. Ed. Hicitec, OPAS, São Paulo, 2006.

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