domingo, 20 de abril de 2008

Para pensar...

Wagner Alves


Igreja Católica, contemporaneidade e saúde: quebra de dogmas pela manutenção da unidade política cristã católica?


Tema interessante não??? Mas você deve estar pensando: o que tem haver igreja católica com a saúde e os novos tempos? Essa comecei a pensar logo depois de ler a reportagem da revista Veja de 9 de abril desse ano que traz uma matéria (não muito destacada) na qual afirma que os mulçumanos ultrapassam os católicos em números de fiéis no mundo.

Isso reflete uma grande passagem histórica nos tempos atuais. As informações serão apresentadas num relatório ao próprio Vaticano (e feito por pesquisadores do próprio Vaticano) no qual afirma que já existem 1,3 bilhões de muçulmanos para 1,1 bilhão de católicos. Tudo bem que, se você levar em consideração toda a massa cristã no mundo, esse número ultrapassa a casa dos 2 bilhões, ao passo que a religião muçulmana também tem suas dissidências (os xiitas, sunitas, alauítas, entre outros) e que isoladas não são páreo para a massa cristã católica mundial. Mas, o próprio fato de a igreja católica encomendar tais pesquisas e manter uma vigilância constante a essa grande evolução muçulmana, já dá conta do quão grande é a preocupação católica com a perda de espaço e terreno.

Mas, você ainda deve estar pensando aonde quero chegar... e vamos ao cerne da questão. Percebam que a igreja católica é uma das grandes forças opositoras a algumas das evoluções tecnológicas que se dão no campo da saúde e, apenas para ilustrar esse cenário, podemos citar a pesquisa com as células-tronco e a utilização dos preservativos na luta contra a aids. Isso tem repelido alguns adeptos cristãos católicos que tem pensamentos diferenciados da igreja quanto a algumas políticas de saúde pública e, consequentemente, incentivado essas pessoas a procurarem espaços onde a religião convirja com os pensamentos que são próprios desses grupos e que acompanham as tendências sócio-tecnológicas dessa sociedade moderna.

A própria pesquisa da qual falamos anteriormente traz como explicação para essa expansão muçulmana as diferenças entre índices de fertilidade entre os adeptos das duas religiões. O número de filhos por mulher nos países ditos católicos estão em queda constante, muito bem exemplificado pela Espanha e Itália, grandes berços do catolicismo e que estão no grupo de países com a menor taxa de fertilidade do mundo. Por outro lado, os muçulmanos, apesar de sócio-economicamente ainda não serem comparáveis à grande massa cristã católica e por terem as mulheres com um papel social subalterno, vão procriando e tendo uma média de 7 filhos por casal.


“A Igreja Católica sofre uma sangria de fiéis – eles debandam para as seitas pentecostais, sobretudo na América Latina –, fenômeno que não existe nas fileiras do Islã.” (VEJA, 9 de abril 2008)

Percebam que a redução dos índices de fertilidade ocorre justamente nos países mais desenvolvidos (se comparados ao de maioria muçulmana) e nessas sociedades, as mulheres assumem novas posições, preocupam-se com o trabalho e profissão, com o custo da educação de filhos, fatos que justificam a opção por famílias menores.

Esses são indicativos de que, se a igreja católica quer mudar esse panorama (e ela não vai ficar parada), ela terá que mexer nas suas bases, terá que rever alguns dogmas que são históricos e não acompanharam o pensamento evolucionista dessa época. Essa não será a primeira vez que isso acontecerá nas bases da igreja. Basta nos lembramos de um pouco da história mundial e vermos as mudanças de posicionamentos assumidos pela igreja durante o período medieval da época feudal para se consolidar e logo após, os movimentos contrários na luta contra a evolução do protestantismo religioso que acontecia no mundo absolutista e tiravam a autonomia e poder da instituição católica.

Atualmente, vemos uma igreja católica que perde adeptos e segue na contramão do que se vem pensando e agindo na saúde, sobretudo no Brasil, que é o maior representante católico da América Latina e apresenta um programa de excelência mundial no combate a aids no mundo, segundo a ONU-OMS.

As pesquisas com células-tronco cada vez mais sinalizam para a grande possibilidade de salvar vidas e contornar problemas de saúde, hoje tidos como incuráveis ou intratáveis e o preservativo, apresentado como uma das medidas de tentativa de controle e de redução dos índices de DST e aids no mundo, sofre os “preconceitos” pela igreja católica com a argumentação da banalização sexual ou do enfraquecimento da constituição de famílias.

O fato é que cada vez mais o cerco vai fechando-se e necessariamente forçará mudanças de postura na dogmática católica de conduzir os seus fiéis e simpatizantes, principalmente para as questões que envolvem práticas de promoção da saúde.

E olha que o momento não é bom. O que se vê nas revistas e jornais são escândalos envolvendo padres, processos judiciais sendo deflagrados, papa pedindo desculpas públicas, menores sendo aliciados por membros da igreja, etc.

Acho que esses são os sinais mais evidentes das mudanças dos tempos.

Essa não é uma situação da qual espero ver vencedores e vencidos. Não se trata disso, de disputas de campo religioso ou de tentar fazer prevalecer pensamentos de grupos específicos. A igreja católica deve ser, acima de tudo, respeitada pelo que ajudou a construir. Mas, particularmente, torço pela evolução dos países como um todo, pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, pela evolução da saúde pública e pelo fortalecimento do SUS, independente de credo, cor ou raça.

Então, que venham os novos tempos, que forças sejam somadas e que a saúde pública comemore dias melhores.



Wagner Alves é enfermeiro

Um comentário:

Anônimo disse...

A igreja católica esquece de evoluir, acha que o mundo ainda tem a visão alienada em que eles estavam acustumados, esquecem que a tecnologia veio e ficou e que não adianta impedirem, coisas tão banais... como a camisinha, para o procriação da espécie...Por acaso eles vão dá mesada pro seus fiéis sustentarem todos os seus filhos? não neh? POis o poder fala mais alto, a ganância, a pose de uma igreja sólida... Um exemplo da ignorância parte do próprio Bento XVI, as opiniões dele, acho simplesmente ridiculas...
A igreja deveria parar de pensar mais nas questões científicas e tecnológicas e olhar para os padres pedofilos que tanto tem em suas igrejas... Teh mais...