sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Comentando a matéria Brasil é 1º lugar em eficiência nos gastos com a saúde

Quando ví essa matéria no site do Ministério da Saúde e em algumas mídias na net e na TV pensei: essa é a mentira mais deslavada que eu vi nos últimos anos sobre a saúde.

Mas, curioso, fui procurar ler a notícia para comentar, assim como havia dito que iria comentar num post anterior.

Ao ler a matéria, pude perceber que na verdade, além da pesquisa ter sido encomendada aqui no Brasil, num estudo chamado de "Brasil e OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico: avaliação da eficiência dos sistemas de saúde", ela fez comparação entre os países integrantes dessa rede de cooperação econômica.

Para chegar a conclusão que coloca o Brasil à frente de muitos países desenvolvidos como a Alemanha, EUA, França ou Japão, por exemplo, foram utilizdos cruzamento de informações de saúde dessas localidades como esperança de vida ao nascer para homens; esperança de vida ao nascer para mulheres; índice de sobrevivência infantil; anos de vida recuperados para doenças transmissíveis; anos de vida recuperados para doenças não-transmissíveis; anos de vida recuperados para causas externas; tamanho da população; e a área geográfica. Todos as informações do ano base de 2004.

Até compreendo que o Brasil esteja à frente desses países pois, indiscutivelmente, as nossas políticas públicas são muito mais adequadas e direcionadas à nossa realidade de "país emergente" - destesto essa terminologia!. E além disso, o SUS na forma como ele é pensado, concebido e aplicado, fortalace ainda mais essa perspectiva social que influi diretamente sobre os indicadores sociais e de saúde que foram citados acima e que foram alvo da especulação do estudo sendo utilizados como parâmetro para a análise.

Agora, daí a dizer que o Brasil é eficiência em gastos com a saúde.... ahhhh.. bata-me uma garapa!

O que bem podemos observar no Brasil são as gritantes discrepâncias e desigualdades existentes entre as classes sociais, a concentração de recursos em pequenos grupos, o sofrimento das populações mais carentes a acessar bens e serviços, os equívocos dos gestores de saúde em direcionar investimentos de forma equivocada, os aviltantes roubos e desvios de recursos da saúde dos municípios, Estados e da União e indicadores de saúde péssimos, com índices e taxas de mortalidades altíssimas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Ainda assim, mesmo convivendo com esse cenário cheio de problemas, chega ao "telespectador" notícias como essas que terminam por mascarar essa dura realidade existente e vai passando uma "falsa" impressão de crescimento e de que tudo vai às mil maravilhas.

É preciso ter coerência na hora de analisar dados como esses. E ainda mais cautela e responsabilidade na hora de veicular informações desse tipo que terminam enviezando a compreensão do brasileiro e mudando totalmente o foco das discussões e observações.

Por que então, não houve comparação de outros dados, indicadores ou taxas como renda per capita por habitante, ou como a inserção de tecnologias nos serviços (privados ou não), ou como as condições de habitação e sanitárias das comunidades, ou como.... Nessas condições e com essas comparações, o Brasil ficaria em que posição???

Fica fácil analisar e comparar as informações que nos deixam sempre à frente dos demais. Assim é muito conveniente.

Ah... ia esquecendo. Na notícia, também foi dito que se no Brasil houvesse o incremento de 1% no gasto per capita com saúde, muitos desses índices sofreriam forte melhora. Tem mais de 10 anos que eu sei disso e nem precisei fazer um estudo de tal "envergadura".

Só para constar, na pesquisa, o Brasil ficou em 1º lugar em "eficiência em gastos com a saúde", à frente dos seguintes países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Coréia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, Suíça e Turquia.
Notícias via O POVO on line

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