- Ei, você sabe quem sou eu? eu sou amigo primo-irmão do prefeito de Cabrobó de Dentro!!!
- Boa tarde, meu nome é Givanildo e sou parente do mega-empresário Dr. Wilson Carvalhal!!
- Quem é o Sr? --> - Eu sou policial!!! --> O nome do Sr. é "policial?
- Você sabe com quem está falando???
A sociedade de forma geral tem cultivado a perspectiva de que a imposição de respeito está intimamente atrelada ao que a pessoa é e/ou representa. Caso não possua uma formação de destaque ou tampouco represente qualquer instituição de credibilidade no mercado, essas pessoas passsam a ser nada sob esses tortuosos olhares. Dessa situação que surgem os maltratos, os abusos de poder, a banalização e menosprezo de outros sujeitos que não fazem parte dessa "rede social".
A busca por "ser alguém" e pelos holofotes da grandeza chega a motivar pessoas a utilizarem dos artifícos mais rasteiros possíveis, sobretudo com colegas de trabalho, com o intuito de galgar cargos e funções reconhecidamente importantes. Não medem esforços e esquecem qualquer resquício de ética e moral que por ventura ainda possa existir.
Essas foram situações que pude vivenciar de forma mais aguda quando trabalhei na gestão de serviços de saúde de alguns municípios. A avidez e a ganância com que as pessoas lutam por esses espaços é algo fora do normal e sempre apresentam-se trazendo colado aos seus nomes o cargo que ora ocupam, tentativas implicitas de deixar claro que são e representam alguma coisa, portanto, "são alguém"!
E tem mais!! É um terrível engano achar que as pessoas indicadas são a melhor força de trabalho em função da confiança que se deposita ou pelo "puxa-saquismo" que realizam. Essas são na verdade as pessoas que darão maior dor de cabeça aos gestores. Tentarão a todo momento gozar de um suposto status que acham passar a desfrutar em função do poder da indicação que carregam. Não respeitam normas, regras, não cumprem pactos, não executam seus trabalhos e ainda são intocáveis. O perfil dessas pessoas é exatamente daquelas que, fracas tecnicamente e impossibilitadas de fazer frente a outros profissionais num justo processo seletivo, vão pelo caminho da "camaradagem" e assumem as "patentes" tão desejadas.
Faço esse registro porque acho o momento crucial. Estamos no início das gestões das prefeituras Brasil afora, período em que os quadros de pessoal estão sendo recompostos e novas equipes de trabalho estão sendo formadas. Em especial nas Secretarias de Saúde, hoje tão politicamente cobiçadas dado aos montantes financeiros e de pessoal que gerem, essas lutas hão de se acirrar, pois quem já está não quer "deixar de ser alguém" e quem estar fora quer entrar.
Os gestores municipais, prefeitos e secretarios devem nesse momento deixar vaidades à margem da escolha de seus pares e levar em consideração o compromisso, a simplicidade, a capacidade técnica e a força de trabalho dessas pessoas que passarão a construir e (re)organizar a saúde dos municípios do Brasil. Esqueçam os figurões e os emblemas!